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05/09/2012


TECNOLOGIA EDUCACIONAL – NOVOS DESAFIOS. COMO CHEGAR LÁ?

 Cristiane Caldeira Mendes dos Santos[1]

Graduada em Matemática, habilitação em Licenciatura.

Docente da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.


Resumo: Este artigo propõe uma reflexão sobre as mudanças sociais, o surgimento da sociedade da informação,  as consequências dessas transformações, a necessidade de novas estratégias, o perfil docente e discente neste contexto e a importância da educação a distância no ensino superior.
Palavras-chave: Educação, tecnologias, ensino a distância.

 

ABSTRACT: This article proposes a reflection on the social changes, the the information society, the consequences of these transformations, the need for new strategies, the student and college profile and in this context the importance of distance education in higher school.
Keywords: Educations, technologies, distance education.

Introdução:

A educação passa por constantes mudanças, estas mudanças são oriundas de uma reestruturação social. Este artigo, a partir de pressupostos teóricos busca elucidar questionamentos sobre como se deram estas mudanças.
Quando ingressei no magistério, em 2008,  deparei-me com uma escola bem distante daquela que cursei, onde os alunos estavam abertos a novas descobertas e cheios de indagações, com hábitos diversos, no entanto com uma semelhança crucial, munidos de mp3, celulares (mais modernos que o meu), e com nenhum interesse em aprender matemática.
Dentro deste novo modelo,  a nova geração executa diferentes tarefas ao mesmo tempo, ouvi música, tecla no celular, usa o notebook, experimenta novos aplicativos, cria blogs, lida com múltiplos links, interagem mais uns com os outros, com isso as  escolas e universidades passam a serem  enfadonhas, sem atraentes, ocasionando desmotivação.
Nasce uma nova geração, esses “novos individuos” , os quais  passaram por  transformações pessoais, culturais e sociais,  cuja a herança é justamente uma sociedade tecnológica, que instiga a necessidade de se pensar como  desenvolver estratégias e explorar esses recursos, para que possamos alcançar os protagonistas, os educandos, os “nativos da era digital”.
A pouca experiência fez com que atribuísse esse desinteresse às minhas aulas, meus métodos e minhas estratégias, o que me fez refletir sobre minhas praticas pedagógicas.
Em busca  de aperfeiçoamento comecei a procurar artigos, textos na internet, em livros didáticos, e comecei a pesquisar sobre as novas tecnologias, foi ai que percebi justamente o que este trecho descreve, precisamos de algo novo, que atraia, que conquiste, que tenha significado, afinal a geração dos “nativos digitais” emergem com o computador na sociedade globalizada, e a informação chega em uma velocidade muito maior e de várias formas, seja através da televisão, com explosão das lan houses, e com uma economia mais estável, cada vez mais brasileiros possuem computadores em casa.      
O objetivo principal deste trabalho é incitar reflexões sobre as exigências resultantes de um novo paradigma educacional, onde a informação se expande em  proporção e velocidade sem precedentes.
Tempos de mudanças, momento de reflexão,dedicação e disponibilidade. Se queremos mudanças, precisamos mudar.
Abordaremos o assunto em dois tópicos: Sociedade da informação, nativos/imigrantes digitais e recursos tecnológicos e Educação a distância e o ensino superior
Na primeira parte, apontaremos as mudanças sociais, os nativos digitais e  alguns recursos tecnológicos, seguindo, posicionares a situação atual, os avanços e obstáculos da  EAD (Educação a Distância) no ensino superior.

1- Sociedade da informação, nativos/imigrantes digitais e recursos tecnológicos.

Para entender o contexto atual, é necessário apontar a evolução das sociedades cronologicamente.
A sociedade industrial inicia-se em meados do século XVII e segue até a década de 70, tendo como característica a produção industrial; passa por uma nova transição intitulada pós-industrial;  a sociedade passa a ter acesso aos bens produzidos por outros e a adotar o setor de serviços.
Ao final do século XIX dá-se início uma nova era: a era da informação. A esta fase atribui-se a capacidade quase ilimitada que indivíduos têm para acessar informação gerada pelos outros, além de serem geradores de informação.
A sociedade da informação resulta da necessidade de globalização, cujo objetivo é fortalecer o capitalismo e interligar o mundo, considerando aspectos econômicos, sociais, culturais e políticos.
As principais características desta sociedade são: o domínio das tecnologias da informação e comunicação, o fluxo de informações, a obtenção rápida e fácil da informação, flexibilidade de tempo e distâncias e interatividade através das conexões em rede.
Com efeito, Takahashi (2000, p 45), vem afirmar a importância da educação na constituição de uma sociedade.
A educação é o elemento-chave na construção de uma sociedade baseada na informação, no conhecimento e no aprendizado.  Parte considerável do desnível entre indivíduos, organizações, regiões e países deve-se à desigualdade de oportunidades relativas ao desenvolvimento da capacidade de aprender e concretizar inovações. (Takahashi, 2000, p 45.).

Sendo assim, para que este desnível seja amenizado, precisamos ampliar e aprimorar o acesso  à informação de forma significativa, com isso diminuirá a desigualdade de oportunidades.
Para alcançarmos uma sociedade consolidada  na era da informação, faz-se necessário definir quem são os protagonistas deste contexto.
Segundo Prensky,
Alguns se referem a eles como N-gen [Net] ou D-gen [Digital]. Porém a denominação mais utilizada que eu encontrei para eles é Nativos Digitais. Nossos estudantes de hoje são todos “falantes nativos” da linguagem digital dos computadores, vídeo games e internet. (Prensky,2001)

Esta geração é descendente da era da informação, da era da tecnologia,  foram gestados e cresceram envoltos por computadores, vídeo games, músicas digitais, câmeras de vídeo, telefones celulares e todos os outros brinquedos e ferramentas da era digital.
E aqueles que não nasceram nesta era? Quem são?
Segundo  Prensky, aqueles que não nasceram no mundo digital, mas em alguma época de nossas vidas, ficaram fascinados e adotaram muitos ou a maioria dos aspectos da nova tecnologia e são e sempre serão comparados a eles, sendo chamados de Imigrantes Digitais.
De repente nos vemos retratados diante desta nomenclatura, somos imigrantes digitais, dentro de uma sociedade em formação.
A sociedade mudou, os individuos mudaram, mas em que essas mudanças influenciam a educação?
Vivemos momentos de transição, Moran (2000) afirma que estamos reaprendendo a conhecer, a comunicar-nos, a ensinar e a aprender, a integrar o humano e o tecnológico, a integrar o individual, o grupal e o social.
Quanto a este processo de mudança, Behrens (2000, p.68) nos esclarece:

O processo de mudança paradigmática atinge todas as instituições, em especial a educação e o ensino nos diversos níveis, inclusive ou principalmente nas universidades. O advento dessas mudanças exige da população uma aprendizagem constante. As pessoas precisam estar preparadas para aprender ao longo da vida podendo intervir, adaptar-se e criar novos cenários. (Behrens, 2000, p.68).
          
Não podemos ficar inertes diante destas mudanças, precisamos nos adaptar e para isso temos que  nos preparar, buscar aperfeiçoamento.
Na introdução de seu artigo, MORAN (2000) vem afirmar esta premissa quando nos diz que educar é colaborar para que professores e alunos - nas escolas e organizações - transformem suas vidas em processos permanentes de aprendizagem.
Se para desenvolver competências e habilidades, contextualizar conteúdos à sua realidade, não podemos renunciar, discriminar ou excluir a geração dos nativos digitais, para que isso não aconteça temos que nos apropriar dessas tecnologias e adequá-las ao contexto escolar atual.
Por vezes nos perguntamos: Porque é tão difícil adequarmos às novas perspectivas?
Com efeito, Presky esclarece:

Os Imigrantes Digitais tipicamente têm pouca apreciação por estas novas habilidades que os Nativos adquiriram e aperfeiçoaram através de anos de interação e prática. Estas habilidades são quase totalmente estrangeiras aos Imigrantes, que aprenderam – e escolhem ensinar – vagarosamente, passo-a-passo, uma coisa de cada vez, individualmente, e acima de tudo,seriamente. ( Prensky,2001)

O que precisamos entender é que o papel do professor sempre foi e sempre será o de mediador. Da lousa de pedra à lousa digital - por mais avançadas que sejam - sempre precisarão de pessoas capazes de guiá-las e operá-las.
Para Moran (2000), o professor é um pesquisador em serviço. Aprende com a prática e a pesquisa e ensina a partir do que aprende. Realiza-se aprendendo- pesquisando-ensinando-aprendendo. O seu papel é fundamentalmente o de um orientador/mediador.
Masseto (2000) esclarece-nos que:

A mediação pedagógica coloca em evidência o papel de sujeito do aprendiz e o fortalece como ator de atividades que lhe permitirão aprender e conseguir atingir seus objetivos; e dá um novo colorido ao papel do professor e aos novos materiais e elementos com que ele deverá trabalhar para crescer e se desenvolver (Masseto, 2000).

Como vimos na citação anterior, precisamos assumir nosso papel de mediador, proporcionamos aos alunos a oportunidade de serem autônomos, de construírem sua aprendizagem. Utilizando uma nova linguagem, a linguagem digital, tornamos esta mediação mais atraente aos olhos nossos alunos.
Estes recursos tecnológicos são facilitadores de obtenção de informações, que ao serem transformadas em conhecimentos (muitas vezes por intermédio do professor), despertam nos alunos as competências e habilidades almejadas.
Novamente, Presky, através de algumas indagações, nos propõe algumas reflexões:

Então o que deveria acontecer? Os estudantes Nativos Digitais deveriam aprender as velhas formas, ou os educadores Imigrantes Digitais deveriam aprender as novas? Infelizmente, independente de quanto os Imigrantes queiram isso, é bem improvável que os Nativos Digitais regredirão. Em primeiro lugar, isto deve ser impossível – as mentes podem já ser diferentes. Isto insulta tudo o que conhecemos sobre migração cultural. As crianças nascidas em qualquer nova cultura aprendem a nova linguagem facilmente, e resistem com vigor em usar a velha. Os espertos adultos imigrantes aceitam que eles não conhecem seu novo mundo e tiram vantagens de suas crianças a ajudá-los a aprender e integrar-se. Os imigrantes não-tão-espertos (ou não-tão-flexíveis) passam a maior parte de seu tempo lamentando de como eram boas as coisas em seu “velho país”. ( Prensky,2001).

Neste trecho, o que Prensky (2001) nos sugere que  repensemos sobre nossa contuda diante do novo e que aceitar o novo, não quer dizer se anular, deixar a essência para trás, mas sobretudo nos abrirmos a novas descobertas, pois o processo de aprendizagem é continua
O que não dá mais é ficarmos culpando o sistema educacional, devemos aceitar e  conhecer o novo, isso não quer dizer que devemos perder origens e sim adequarmos as novas.
Segundo, Moran (2000, pp. 31-32) precisamos integrar tecnologias, metodologias, atividades; trazer o universo do audiovisual para dentro da escola; variar a forma de dar aula, as técnicas usadas em sala de aula e fora dela, as atividades solicitadas, as dinâmicas propostas, o processo de avaliação; planejar e improvisar, prever e ajustar-se as circunstancias, ao novo;
diversificar, mudar, adaptar-se continuamente a cada grupo, a cada aluno, quando necessário; valorizar a presença no que ela tem de melhor e a comunicação virtual no que ela nos favorece; equilibrar a presença e a distância, a comunicação “olho-no-olho” e a telemática; estes são alguns princípios necessários para um bom educador no contexto atual.              
Mas quais são de fato essas tecnologias? Como integrá-las de forma inovadora e significativa?
Os recursos tecnológicos na educação devem ter aspecto significativo de aprendizagem e estar atrelados a uma formação específica e de aplicabilidade nas diversas áreas do conhecimento.
Esta premissa é apontada por Masseto (2000, p 155) a seguir:


É importante chamar a atenção para o seguinte ponto: não se pode pensar no uso da tecnologia sozinha ou isolada. Seja na educação presencial, seja na virtual, o planejamento do processo de aprendizagem precisa ser feito em sua totalidade e em cada uma de suas unidades. (Masseto, 2000, p 155)

Antes de escolhermos um recurso tecnológico, é preciso estar bem claro qual o objetivo a atingir, e por consequência, qual tecnologia é a mais viável.
Citaremos a seguir alguns recursos e sua aplicabilidade:
Teleconferência: possibilita colocar um especialista em contato com os telespectadores das mais diversas e longínquas regiões do planeta. Porém, este tipo de recurso limita-se no que diz respeito à interação.
Editores de texto, planilhas e criadores de slides: programas que auxiliam na confecção de atividades acadêmicas, criação de gráficos e de apresentação, ilustração das aulas.
Softwares específicos: programas desenvolvidos para auxiliar o professor em conteúdos específicos em uma linguagem digital.
Internet: assim como a teleconferência, possibilita contatos entre pessoas de diversos lugares e em qualquer tempo, é o recurso mais ilimitado. Nela desenvolvemos várias formas de comunicação (chats, blogs, sites, correio eletrônico). Através dela aprende-se a ler, a buscar informações, a pesquisar, a comparar dados, a analisá-los, criticá-los, organizá-los, desenvolve-se habilidades de auto-aprendizagem e interaprendizagem[2].

2-Educação a distância e o ensino superior.
           
A EAD trata-se de uma modalidade de ensino mediada por tecnologias de comunicação.
Segundo o dicionário de terminologia em EAD, desenvolvido pela Fundação Roberto Marinho, disponível na Revista Brasileira de Aprendizagem Aberta e a Distância, da Associação Brasileira de Educação a Distância, existem diversas definições de EAD:
           
Algumas enfatizam o fator de distância geográfica entre professor e alunos. Outras enfatizam o uso de tecnologias de comunicação. A mais abrangente inclui todas as formas de ensino-aprendizagem nas quais os alunos e/ou os professores se comunicam de qualquer maneira, além de reuniões presenciais em sala de aula. Esta definição inclui casos como: alunos espalhados geograficamente e estudando sozinhos por grande parte do tempo, mas participando de reuniões de grupo regulares em centros de estudo ou telepostos (study center; learning center),  com ou sem a presença de um tutor ou facilitador; alunos e professores morando no mesmo local e frequentando a mesma instituição de ensino presencial, que por motivos de conveniência de horários e não problemas de distância geográfica comunicam-se por meio de redes de computadores (Email). ( Romiszowski, Alexander J e Hermelina, 1998 Fundação Roberto Marinho)

A educação a distância era feita por correspondência de material impresso; em seguida, surgiram os telecursos, as teleconferências e com  a chegada da internet, foram  instituídos Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA),             tornando mais ampla e atingindo diversas modalidades da educação, desde a educação infantil até a pós-graduação.      Em seu artigo Educação a distancia na internet,  Almeida (2000) afirma que os avanços e a disseminação do uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) descortinam novas perspectivas para a educação a distância com o suporte em ambientes digitais de aprendizagem acessados via internet.
Essas novas perspectivas não dizem respeito somente ao que é virtual, pois as tecnologias servem somente de apoio para uma educação inovadora e igualitária, o que nos revela Moran (2000):
Com o apoio das tecnologias, os pilares de uma educação inovadora se apóiam em um conjunto de propostas com alguns grandes eixos, que lhe servem de guia e de base: conhecimento integrador e inovador; desenvolvimento da autoestima e do autoconhecimento (valorização de todos); formação de alunos empreendedores (criativos, com iniciativa); construção de alunos cidadãos (com valores individuais e sociais). São pilares que poderão tornar o processo de ensino-aprendizagem muito mais flexível, integrado, empreendedor e inovador. Moran (2000)

Além de desenvolvermos alunos mais autônomos e criativos, podemos sanar problemas cruciais como a desigualdade de acesso à educação, de oportunidades e de condições.   
Com intuito de disseminar e contribuir para o desenvolvimento deste conceito foi criada a ABED (Associação Brasileira de Educação a Distância), presidita desde 2007 pelo Professor Doutor Fredric Michael Litto.
Os objetivos principais da ABED são:
Estimular a prática e o desenvolvimento de projetos em educação a distância em todas as suas formas; incentivar a prática da mais alta qualidade de serviços para alunos, professores, instituições e empresas que utilizam a educação a distância; apoiar a "indústria do conhecimento" do país procurando reduzir as desigualdades causadas pelo isolamento e pela distância dos grandes centros urbanos; promover o aproveitamento de "mídias" diferentes na realização de educação a distância; fomentar o espírito de abertura, de criatividade, inovação, de credibilidade e de experimentação na prática da educação a distância.
Deste então, o referido professor vem acompanhando o desenvolvimento da EAD no Brasil, e é sobre este desenvolvimento que falaremos a seguir.
Em seu artigo, Litto (2009) faz um retrato da educação a distância no Brasil, estes dados demonstram quedas na desigualdade de acesso ao ensino superior.
De 2004 a 2008 houve, no ensino superior nacional, um aumento do número de alunos estudando a distância de 1.175%; o crescimento anual no ensino superior presencial é de, aproximadamente, apenas 5%;
Em 2008, quase 400 instituições constavam como credenciadas pelo Ministério da Educação (MEC) e por Conselhos Estaduais da Educação para ministrar cursos de graduação e pós-graduação latu senso (AbraEAD, 2008);  
Um bom indicador da “absorção” da EAD pela população brasileira é o fator de “extraterritorialidade” dos cursos superiores a distância, isto é, de matrículas de alunos de unidades da federação diferentes daquelas da sede das instituições ofertantes dos mesmos cursos: 31% das instituições têm alunos apenas do mesmo Estado, 45% das instituições têm até 50% dos seus alunos em outros Estados, e 23% têm mais de 50% dos seus alunos em outros Estados (AbraEAD, 2008, p. 72).
A legalidade da EAD do Brasil e sua adesão por diversas Instituições de Ensino Superior proporcionaram um aumento de oferta de cursos de graduação, possibilitando atendimento à demanda daqueles que antes não tinham acesso ao ensino superior.
É sabido que a Educação a distância é um grande aliado para melhorar o acesso à educação superior no Brasil,mas precisamos nos ater a alguns pontos.
Segundo Valente (2003),
Considerando as dimensões do Brasil e a quantidade de pessoas a serem educadas, a Educação a Distância (EAD) no ensino superior passa a ser vista como uma solução importante. No entanto, o que tem sido proposto, em grande parte, pode ser considerado como uma imitação das abordagens tradicionais de ensino, viabilizadas porém por meio de recursos tecnológicos digitais. A discussão ainda está centrada em meios de comunicação e existência de material de apoio. Muito pouco tem sido falado sobre as questões pedagógicas. Valente (2003).
           
Com efeito, Seabra (in Behrens, 2000, pp.97-98) sugere algumas estratégias:
Exercitação: é uma proposta de programa que tem como objetivo oferecer treinamento de certas habilidades. O uso e adequação desse programa depende do projeto pedagógico que o professor pretende desenvolver com os alunos;
Programas tutoriais: são compostos por blocos de informações de modo pedagogicamente organizado, como se fosse um livro animado, um vídeo ou um professor eletrônico;
Aplicativos: são programas voltados para funções específicas, como planilhas eletrônicas, processadores de textos (editores de textos), gerenciadores de banco de dados e apresentações de slides;
Programas de autoria: extensão avançada das linguagens de programação. Este tipo de recurso permite que professores e alunos criem seus próprios programas sem que tenham que possuir conhecimentos avançados de programação. A maioria desses sistemas facilita o desenvolvimento de apresentações em multimídias envolvendo textos, gráficos, sons e animação;
Simulações: são programas elaborados para possibilitar ao usuário a interação com situações complexas e de risco. Exemplo específico desse recurso são os simuladores de voo usados em treinamento.
Não podemos esquecer do que nos afirma (BEHRENS, 2000, p. 99): que o recurso por si só não garante a inovação, mas depende de um projeto bem arquitetado, alimentado pelos professores e alunos usuários. O computador é a ferramenta auxiliar no processo de “aprender a aprender”.
A EAD, mesmo com a intensidade de disseminação e de possibilidades de democratização, sofre muitos obstáculos, é o que nos retrata Litto (2008):

Do lado que gera preocupações, o obstáculo principal ao desenvolvimento da EAD no Brasil parece ser a mentalidade conservadora demonstrada por docentes universitários (especialmente das faculdades de educação) e sindicatos de professores, que criticam a EAD por “falta de qualidade”, sem oferecer exemplos de práticas que não sejam, também, parte do ensino presencial no país, e sem sugerir outras alternativas para aumentar o acesso mais democrático ao conhecimento, que vão além de propostas ingênuas e utópicas. (Litto, 2008)
           
O crescimento cada vez maior do número de alunos ou do retorno financeiro faz com que as Instituições de Ensino Superior  esqueçam-se da questão da qualidade, expondo a EAD à crítica de vários setores da sociedade.
É o que nos revelam as reclamações dos alunos brasileiros feitas a ABED (Associação Brasileira de Educação a Distância), ABE-EAD (Associação Brasileira de Estudantes de Educação a Distância), e a SEED-MEC (Secretaria de Educação a Distância do Ministério da Educação), relatadas no artigo de Litto(2008):
Abreviação inaceitável do conteúdo coberto pelo curso; um curso de graduação ou de pós-graduação a distância deve ter, aproximadamente, a mesma extensão e profundidade (densidade) de tratamento de conteúdo que os congêneres oferecidos presencialmente pela mesma instituição, ou por instituições de referência no país;
Inadequação do material impresso distribuído aos alunos, variando entre a  superficialidade no tratamento da matéria à redução drástica de um típico livro-texto universitário para uma pequena apostila;
Deficiência na avaliação do desempenho dos alunos,  variando de exames apenas no estilo “escolha múltipla” aos exames “multidisciplinares” (nos quais um conjunto das mesmas perguntas é aplicado a alunos de diferentes  cursos — economia, pedagogia, ciências sociais;
Número excessivo de alunos sob a responsabilidade de um único tutor (assistente do professor); embora a tecnologia usada para a realização do curso e a natureza do seu conteúdo possam ser fatores determinantes sobre essa questão, em geral a média de 130:1 é considerada, internacionalmente, como razoável para o atendimento de alunos de EAD, organizados em turmas, em cursos de graduação (e não 500:1 ou mais, como já foi constatado em alguns casos brasileiros);
Tutores não-qualificados academicamente para atender alunos de determinadas áreas de  conhecimento, cabe à instituição selecionar como tutores apenas profissionais que podem demonstrar conhecimento real sobre a área de sua especialidade, além de capacidade como mentor. Orientando alunos a distância;
Insuficiência, em quantidade e qualidade, de apoio  material (computadores, livros e periódicos especializados—sejam online ou físicos e equipamentos científicos exigidos pelos cursos) nos centros de atendimento presencial aos alunos; cabe à instituição o planejamento apropriado para o atendimento de seus alunos;
Com certeza, é o atendimento ao aluno pela instituição que causa o maior número de reclamações — independentemente da tecnologia adotada para a comunicação (web, emails, ou telefonemas), as respostas a perguntas sobre conteúdo acadêmico, questões de  matrícula ou de aspectos financeiros a propósito da relação aluno/instituição, frequentemente levam uma semana ou mais, período excessivo tanto do ponto de vista da aprendizagem como do consumidor; uma boa prática seria que cada instituição anunciasse sua garantia de tempo de resposta às perguntas dos alunos, garantindo essas prestações de serviço.
Tudo o que foi relatado sobre a EAD no ensino superior brasileiro é o retrato de uma sociedade que mudou. Essas mudanças ampliaram o atendimento no ensino superior e precisam de ajustes.
Precisamos de uma política pública que fiscalize as instituições de ensino,  principalmente no que diz respeito ao projeto pedagógico no exercício da educação a distancia, quanto ao preparo do docente para o exercício da mediação dessas tecnologias.
Diante dessas necessidades, MORAN (2000, p.168), nos afirma que:

Mudar não é tão simples e não depende de um único fator. O que não podemos é cada um jogar a culpa nos outros para justificar a inércia, a defasagem gritante entre as aspirações dos alunos e a forma de preenchê-las. Se os administradores escolares investirem em formação humanística dos educadores e no domínio tecnológico, poderemos avançar mais. (MORAN, 2000, p.168)


Considerações finais:

Para alcançar os nativos digitais, nós educadores imigrantes digitais, precisamos rever nosso lugar na sociedade da informação, nossas práticas pedagógicas e o nosso papel.
A revolução na educação tem que acontecer em sua essência, romper com paradigmas educacionais, fazer interação entre aluno-professor-tecnologias, ampliando e modificando as formas de ensinar e aprender com o uso da internet.
A prática pedagógica das instituições de ensino superior, assim como dos professores universitários, deve atender às exigências da sociedade da informação, com uma Educação a distancia consolidada, melhoria nas estruturas e com currículos mais flexíveis e criativos, transformando seus alunos em pessoas capazes, éticas, talentosas, felizes e humanas.
Que a docência do ensino superior seja de entusiasmo e de novas propostas, propiciando melhores condições de aprendizagem para nossos alunos.
As possibilidades e os problemas educacionais são imensos, portanto, é importante que tenhamos pessoas interessadas em despertar possibilidades concretas, capazes de experimentar caminhos novos, que busquem qualificação. Só assim poderemos fazer integração do humano e do tecnológico, do presencial e do virtual.
Sabemos, portanto, que existe uma distância considerável entre o que é ideal e o real, os pressupostos teóricos retratados neste artigo, trazem de forma sucinta e pontual a situação da educação atual, as novas perspectivas e as dificuldades enfrentadas.
O uso das tecnologias na EAD tem conquistado um espaço de proeminência, o mercado de tecnologias educacionais cresce velozmente, existe um crescente número de alunos em cursos a distância, que mesmo implicitamente, aderem a um novo sistema educativo centrado no próprio aluno.
Esperamos que conhecendo o potencial da EAD, possamos derrubar os obstáculos do tempo e de Extraterritorialidade[3], tornando-se real a democratização do ensino.
Como chegaremos lá? Estes são alguns caminhos a seguir, por vezes tortuosos, outros lineares. Sem fórmulas prontas, mas com investigações de novas possibilidades, cheias de acertos e erros, as quais nos guiarão rumo à  educação que desejamos.


Referências bibliográficas:

ABED, Associação Brasileira de Educação a Distância. disponivel em: http://www2.abed.org.br/. acesso em 10/08/2011

BEHRENS, Marilda A. 2000, Projetos de aprendizagem colaborativa num paradigma emergente. In: MORAN, José M. et al. Novas tecnologias e mediação pedagógica. São Paulo: Papirus, pp. 67-132.

HOFFMANN, J. Avaliação mediadora: uma prática em construção da pré-escola à universidade. Porto Alegre: Educação e Realidade, 1993.

LITTO, F. M. . O Retrato Frente e Verso da Aprendizagem a Distância no Brasil 2009. ETD : Educação Temática Digital, v. 10, p. 108-122, 2009.

MASETTO, os T. e outros. Mediação pedagógica e o uso da tecnologia. In: Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas, Papirus, 2000.

MORAN, José Manuel. A educação que desejamos : novos desafios e como chegar lá.    São Paulo: Papirus, 2007. 174p. 

MORAN, J. M. Ensino e aprendizagem inovadores com tecnologias. Artigo publicado na revista  Informática na Educação: Teoria & Prática. Porto Alegre, vol. 3, n.1 (set. 2000) Disponível em: http://www.eca.usp.br/prof/moran/inov.htm . Acesso em 10/08/2011

PRENSKY, . Nativos Digitais, Imigrantes Digitais. On the Horizon, 2001.
Tradução: Roberta de Moraes Jesus de Souza : UCG, 2001. Disponível em: http://depiraju.edunet.sp.gov.br/nucleotec/documentos/Texto_1_Nativos_Digitais_Imigrantes_Digitais.pdf Acesso: 12/08/2011

TAKAHASHI, Tadao (org). Sociedade da Informação no Brasil: Livro Verde. Brasília: Ministério da Ciência e Tecnologia, 2000.

VALENTE, José Armando. Educação a distância no ensino superiorsoluções e flexibilizações. Interface (Botucatu) [online]. 2003, vol.7, n.12, pp. 139-142.

Revista Brasileira de Aprendizagem Aberta e a Distância, Dicionário de terminologia ead.  http://www.abed.org.br/revistacientifica/_brazilian/dicionario_terminologia_ead/dicionario_terminologia_ead.htm . Acesso em 12/08/2011





[1]          cristiane.kika@hotmail.com
[2] MASETTO, Marcos T. e outros. Mediação pedagógica e o uso da tecnologia. In: Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas, Papirus, 2000. Aprendizagem realizada com interação entre professor-aluno-colegas (grupo).

[3] Qualidade de extraterritorial, situado fora dos limites territoriais de uma jurisdição. disponível em:   http://www.dicio.com.br/extraterritorial/ acesso 19/10/2011

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