TECNOLOGIA EDUCACIONAL – NOVOS DESAFIOS. COMO CHEGAR LÁ?
Cristiane Caldeira Mendes dos Santos[1]
Graduada em Matemática, habilitação em Licenciatura.
Docente da Secretaria de Educação do Estado de São
Paulo.
Resumo: Este artigo propõe uma reflexão sobre as
mudanças sociais, o surgimento da sociedade da informação, as consequências
dessas transformações, a
necessidade de novas estratégias, o perfil docente e discente neste
contexto e a importância da educação a distância no ensino superior.
Palavras-chave: Educação,
tecnologias, ensino a distância.
ABSTRACT: This
article proposes a reflection on the social changes, the the information
society, the consequences of these transformations, the need for new
strategies, the student and college profile and in this context the importance
of distance education in higher school.
Keywords:
Educations, technologies, distance education.
Introdução:
A educação passa por constantes mudanças,
estas mudanças são oriundas de uma reestruturação social. Este artigo, a partir
de pressupostos teóricos busca elucidar questionamentos sobre como se deram
estas mudanças.
Quando ingressei
no magistério, em 2008, deparei-me com
uma escola bem distante daquela que cursei, onde os alunos estavam abertos a
novas descobertas e cheios de indagações, com hábitos diversos, no entanto com
uma semelhança crucial, munidos de mp3, celulares (mais modernos que o meu), e
com nenhum interesse em aprender matemática.
Dentro deste novo
modelo, a nova geração executa
diferentes tarefas ao mesmo tempo, ouvi música, tecla no
celular, usa o notebook, experimenta novos aplicativos, cria blogs, lida com
múltiplos links, interagem mais uns com os outros, com isso as escolas
e universidades passam a serem
enfadonhas, sem atraentes, ocasionando desmotivação.
Nasce uma nova geração, esses “novos
individuos” , os quais passaram por transformações pessoais, culturais e
sociais, cuja a herança é justamente uma
sociedade tecnológica, que instiga a necessidade de se pensar como desenvolver estratégias e explorar esses
recursos, para que possamos alcançar os protagonistas, os educandos, os
“nativos da era digital”.
A pouca
experiência fez com que atribuísse esse desinteresse às minhas aulas, meus
métodos e minhas estratégias, o que me fez refletir sobre minhas praticas
pedagógicas.
Em busca de aperfeiçoamento comecei a procurar
artigos, textos na internet, em livros didáticos, e comecei a pesquisar sobre
as novas tecnologias, foi ai que percebi justamente o que este trecho descreve,
precisamos de algo novo, que atraia, que conquiste, que tenha significado,
afinal a geração dos “nativos digitais” emergem com o computador na sociedade
globalizada, e a informação chega em uma velocidade muito maior e de várias
formas, seja através da televisão, com explosão das lan houses, e com uma economia mais estável, cada vez
mais brasileiros possuem computadores em casa.
O objetivo principal deste trabalho é
incitar reflexões sobre as exigências resultantes de um novo paradigma
educacional, onde a informação se expande em
proporção e velocidade sem precedentes.
Tempos de mudanças, momento de
reflexão,dedicação e disponibilidade. Se queremos mudanças, precisamos mudar.
Abordaremos o assunto em dois tópicos: Sociedade da informação, nativos/imigrantes
digitais e recursos tecnológicos e Educação a distância e o ensino superior
Na primeira parte, apontaremos as
mudanças sociais, os nativos digitais e
alguns recursos tecnológicos, seguindo, posicionares a situação atual,
os avanços e obstáculos da EAD (Educação
a Distância) no ensino superior.
1- Sociedade
da informação, nativos/imigrantes digitais e recursos tecnológicos.
Para entender o
contexto atual, é necessário apontar a evolução das sociedades
cronologicamente.
A sociedade
industrial inicia-se em meados do século XVII e segue até a década de 70, tendo
como característica a produção industrial; passa por uma nova transição intitulada
pós-industrial; a sociedade passa a ter acesso
aos bens produzidos por outros e a adotar o setor de serviços.
Ao final do
século XIX dá-se início uma nova era: a era da informação. A esta fase
atribui-se a capacidade quase ilimitada que indivíduos têm para acessar informação
gerada pelos outros, além de serem geradores de informação.
A sociedade da
informação resulta da necessidade de globalização, cujo objetivo é fortalecer o
capitalismo e interligar o mundo, considerando aspectos econômicos, sociais,
culturais e políticos.
As principais
características desta sociedade são: o domínio das tecnologias da informação e
comunicação, o fluxo de informações, a obtenção rápida e fácil da informação,
flexibilidade de tempo e distâncias e interatividade através das conexões em
rede.
Com efeito,
Takahashi (2000, p 45), vem afirmar a importância da educação na constituição de
uma sociedade.
A
educação é o elemento-chave na construção de uma sociedade baseada na
informação, no conhecimento e no aprendizado.
Parte considerável do desnível entre indivíduos, organizações, regiões e
países deve-se à desigualdade de oportunidades relativas ao desenvolvimento da capacidade
de aprender e concretizar inovações. (Takahashi, 2000, p 45.).
Sendo assim, para
que este desnível seja amenizado, precisamos ampliar e aprimorar o acesso à informação de forma significativa, com isso
diminuirá a desigualdade de oportunidades.
Para alcançarmos uma
sociedade consolidada na era da
informação, faz-se necessário definir quem são os protagonistas deste contexto.
Segundo Prensky,
Alguns se referem a
eles como N-gen [Net] ou D-gen [Digital]. Porém a denominação mais utilizada
que eu encontrei para eles é Nativos Digitais.
Nossos estudantes de hoje são todos “falantes nativos” da linguagem digital dos
computadores, vídeo games e internet. (Prensky,2001)
Esta geração é descendente da era da
informação, da era da tecnologia, foram
gestados e cresceram envoltos por computadores, vídeo games, músicas digitais,
câmeras de vídeo, telefones celulares e todos os outros brinquedos e ferramentas
da era digital.
E aqueles que não
nasceram nesta era? Quem são?
Segundo Prensky, aqueles que não nasceram no mundo digital, mas em
alguma época de nossas vidas, ficaram fascinados e adotaram muitos ou a maioria
dos aspectos da nova tecnologia e são e sempre serão comparados a eles, sendo
chamados de Imigrantes Digitais.
De repente nos
vemos retratados diante desta nomenclatura, somos imigrantes digitais, dentro
de uma sociedade em formação.
A sociedade mudou, os individuos mudaram,
mas em que essas mudanças influenciam a educação?
Vivemos momentos
de transição, Moran (2000) afirma que estamos reaprendendo
a conhecer, a comunicar-nos, a ensinar e a aprender, a integrar o humano e o
tecnológico, a integrar o individual, o grupal e o social.
Quanto a este processo de mudança, Behrens (2000, p.68) nos esclarece:
O
processo de mudança paradigmática atinge todas as instituições, em especial a
educação e o ensino nos diversos níveis, inclusive ou principalmente nas
universidades. O advento dessas mudanças exige da população uma aprendizagem
constante. As pessoas precisam estar preparadas para aprender ao longo da vida
podendo intervir, adaptar-se e criar novos cenários. (Behrens, 2000, p.68).
Não podemos ficar
inertes diante destas mudanças, precisamos nos adaptar e para isso temos
que nos preparar, buscar
aperfeiçoamento.
Na introdução de
seu artigo, MORAN (2000) vem afirmar esta premissa quando nos diz que educar é colaborar para que professores e alunos - nas escolas e
organizações - transformem suas vidas em processos permanentes de aprendizagem.
Se para
desenvolver competências e habilidades, contextualizar conteúdos à sua
realidade, não podemos renunciar, discriminar ou excluir a geração dos nativos digitais,
para que isso não aconteça temos que nos apropriar dessas tecnologias e
adequá-las ao contexto escolar atual.
Por vezes nos
perguntamos: Porque é tão difícil adequarmos às novas perspectivas?
Com efeito,
Presky esclarece:
Os Imigrantes
Digitais tipicamente têm pouca apreciação por estas novas habilidades que os
Nativos adquiriram e aperfeiçoaram através de anos de interação e prática.
Estas habilidades são quase totalmente estrangeiras aos Imigrantes, que
aprenderam – e escolhem ensinar – vagarosamente, passo-a-passo, uma coisa de
cada vez, individualmente, e acima de tudo,seriamente. ( Prensky,2001)
O que precisamos
entender é que o papel do professor sempre foi e sempre será o de mediador. Da
lousa de pedra à lousa digital - por mais avançadas que sejam - sempre precisarão
de pessoas capazes de guiá-las e operá-las.
Para Moran (2000),
o professor é um pesquisador em serviço. Aprende com a prática e a pesquisa e
ensina a partir do que aprende. Realiza-se aprendendo-
pesquisando-ensinando-aprendendo. O seu papel é fundamentalmente o de um orientador/mediador.
Masseto (2000)
esclarece-nos que:
A
mediação pedagógica coloca em evidência o papel de sujeito do aprendiz e o
fortalece como ator de atividades que lhe permitirão aprender e conseguir
atingir seus objetivos; e dá um novo colorido ao papel do professor e aos novos
materiais e elementos com que ele deverá trabalhar para crescer e se
desenvolver (Masseto, 2000).
Como vimos na citação anterior, precisamos
assumir nosso papel de mediador, proporcionamos aos alunos a oportunidade de
serem autônomos, de construírem sua aprendizagem. Utilizando uma nova
linguagem, a linguagem digital, tornamos esta mediação mais atraente aos olhos
nossos alunos.
Estes recursos
tecnológicos são facilitadores de obtenção de informações, que ao serem
transformadas em conhecimentos (muitas vezes por intermédio do professor),
despertam nos alunos as competências e habilidades almejadas.
Novamente,
Presky, através de algumas indagações, nos propõe algumas reflexões:
Então
o que deveria acontecer? Os estudantes Nativos Digitais deveriam aprender as
velhas formas, ou os educadores Imigrantes Digitais deveriam aprender as novas?
Infelizmente, independente de quanto os Imigrantes queiram isso, é bem
improvável que os Nativos Digitais regredirão. Em primeiro lugar, isto deve ser
impossível – as mentes podem já ser diferentes. Isto insulta tudo o que
conhecemos sobre migração cultural. As crianças nascidas em qualquer nova
cultura aprendem a nova linguagem facilmente, e resistem com vigor em usar a
velha. Os espertos adultos imigrantes aceitam que eles não conhecem seu novo
mundo e tiram vantagens de suas crianças a ajudá-los a aprender e integrar-se.
Os imigrantes não-tão-espertos (ou não-tão-flexíveis) passam a maior parte de
seu tempo lamentando de como eram boas as coisas em seu “velho país”. ( Prensky,2001).
Neste trecho, o que Prensky (2001) nos sugere
que repensemos sobre nossa contuda
diante do novo e que aceitar o novo, não quer dizer se anular, deixar a essência
para trás, mas sobretudo nos abrirmos a novas descobertas, pois o processo de
aprendizagem é continua
O que não dá mais é ficarmos culpando o
sistema educacional, devemos aceitar e
conhecer o novo, isso não quer dizer que devemos perder origens e sim
adequarmos as novas.
Segundo, Moran (2000, pp. 31-32)
precisamos integrar tecnologias, metodologias, atividades; trazer o universo do
audiovisual para dentro da escola; variar a forma de dar aula, as técnicas
usadas em sala de aula e fora dela, as atividades solicitadas, as dinâmicas
propostas, o processo de avaliação; planejar e improvisar, prever e ajustar-se
as circunstancias, ao novo;
diversificar, mudar, adaptar-se
continuamente a cada grupo, a cada aluno, quando necessário; valorizar a
presença no que ela tem de melhor e a comunicação virtual no que ela nos
favorece; equilibrar a presença e a distância, a comunicação “olho-no-olho” e a
telemática; estes são alguns princípios necessários para um bom educador no
contexto atual.
Mas quais são de fato essas tecnologias?
Como integrá-las de forma inovadora e significativa?
Os recursos
tecnológicos na educação devem ter aspecto significativo de aprendizagem e estar
atrelados a uma formação específica e de aplicabilidade nas diversas áreas do
conhecimento.
Esta premissa é apontada por Masseto (2000, p
155) a seguir:
É
importante chamar a atenção para o seguinte ponto: não se pode pensar no uso da
tecnologia sozinha ou isolada. Seja na educação presencial, seja na virtual, o
planejamento do processo de aprendizagem precisa ser feito em sua totalidade e
em cada uma de suas unidades. (Masseto, 2000, p 155)
Antes de
escolhermos um recurso tecnológico, é preciso estar bem claro qual o objetivo a
atingir, e por consequência, qual tecnologia é a mais viável.
Citaremos a
seguir alguns recursos e sua aplicabilidade:
Teleconferência: possibilita colocar um especialista em
contato com os telespectadores das mais diversas e longínquas regiões do
planeta. Porém, este tipo de recurso limita-se no que diz respeito à interação.
Editores de texto, planilhas e criadores de slides: programas que auxiliam na confecção de
atividades acadêmicas, criação de gráficos e de apresentação, ilustração das
aulas.
Softwares específicos: programas desenvolvidos para auxiliar o
professor em conteúdos específicos em uma linguagem digital.
Internet: assim como a teleconferência, possibilita contatos entre pessoas de
diversos lugares e em qualquer tempo, é o recurso mais ilimitado. Nela
desenvolvemos várias formas de comunicação (chats, blogs, sites, correio
eletrônico). Através dela aprende-se a ler, a buscar informações, a pesquisar,
a comparar dados, a analisá-los, criticá-los, organizá-los, desenvolve-se
habilidades de auto-aprendizagem e interaprendizagem[2].
2-Educação a distância e o ensino
superior.
A EAD trata-se de
uma modalidade de ensino mediada por tecnologias de comunicação.
Segundo o
dicionário de terminologia em EAD, desenvolvido pela Fundação Roberto Marinho,
disponível na Revista Brasileira de Aprendizagem Aberta e
a Distância, da Associação Brasileira de Educação a Distância, existem diversas definições de EAD:
Algumas
enfatizam o fator de distância geográfica entre professor e alunos. Outras
enfatizam o uso de tecnologias de comunicação. A mais abrangente inclui todas
as formas de ensino-aprendizagem nas quais os alunos e/ou os professores se
comunicam de qualquer maneira, além de reuniões presenciais em sala de aula.
Esta definição inclui casos como: alunos espalhados geograficamente e estudando
sozinhos por grande parte do tempo, mas participando de reuniões de grupo
regulares em centros de estudo ou telepostos (study center; learning
center), com ou sem a presença de um
tutor ou facilitador; alunos e professores morando no mesmo local e frequentando
a mesma instituição de ensino presencial, que por motivos de conveniência de
horários e não problemas de distância geográfica comunicam-se por meio de redes
de computadores (Email). ( Romiszowski, Alexander J e
Hermelina, 1998 Fundação Roberto Marinho)
A educação a
distância era feita por correspondência de material impresso; em seguida,
surgiram os telecursos, as teleconferências e com a chegada da internet, foram instituídos Ambientes Virtuais de Aprendizagem
(AVA), tornando mais ampla e
atingindo diversas modalidades da educação, desde a educação infantil até a
pós-graduação. Em seu artigo Educação
a distancia na internet, Almeida (2000)
afirma que os avanços e a disseminação do uso das Tecnologias de Informação e Comunicação
(TICs) descortinam novas perspectivas para a educação a distância com o suporte
em ambientes digitais de aprendizagem acessados via internet.
Essas novas
perspectivas não dizem respeito somente ao que é virtual, pois as tecnologias
servem somente de apoio para uma educação inovadora e igualitária, o que nos
revela Moran (2000):
Com
o apoio das tecnologias, os pilares de uma educação inovadora se apóiam em um
conjunto de propostas com alguns grandes eixos, que lhe servem de guia e de
base: conhecimento integrador e inovador; desenvolvimento da autoestima e do
autoconhecimento (valorização de todos); formação de alunos empreendedores
(criativos, com iniciativa); construção de alunos cidadãos (com valores
individuais e sociais). São pilares que poderão tornar o processo de
ensino-aprendizagem muito mais flexível, integrado, empreendedor e inovador.
Moran (2000)
Além de
desenvolvermos alunos mais autônomos e criativos, podemos sanar problemas
cruciais como a desigualdade de acesso à educação, de oportunidades e de
condições.
Com intuito de
disseminar e contribuir para o desenvolvimento deste
conceito foi criada a ABED (Associação Brasileira de Educação a Distância),
presidita desde 2007 pelo Professor Doutor Fredric Michael Litto.
Os objetivos principais da ABED são:
Estimular a prática e o desenvolvimento
de projetos em educação a distância em todas as suas formas; incentivar a
prática da mais alta qualidade de serviços para alunos, professores,
instituições e empresas que utilizam a educação a distância; apoiar a
"indústria do conhecimento" do país procurando reduzir as
desigualdades causadas pelo isolamento e pela distância dos grandes centros
urbanos; promover o aproveitamento de "mídias" diferentes na
realização de educação a distância; fomentar o espírito de abertura, de
criatividade, inovação, de credibilidade e de experimentação na prática da
educação a distância.
Deste então, o referido professor vem
acompanhando o desenvolvimento da EAD no Brasil, e é sobre este desenvolvimento
que falaremos a seguir.
Em seu artigo, Litto (2009) faz um retrato da educação a
distância no Brasil, estes dados demonstram quedas na desigualdade de acesso ao
ensino superior.
De 2004 a 2008
houve, no ensino superior nacional, um aumento do número de alunos estudando a
distância de 1.175%; o crescimento anual no ensino superior presencial é de,
aproximadamente, apenas 5%;
Em 2008, quase
400 instituições constavam como credenciadas pelo Ministério da Educação (MEC)
e por Conselhos Estaduais da Educação para ministrar cursos de graduação e
pós-graduação latu senso (AbraEAD, 2008);
Um bom indicador
da “absorção” da EAD pela população brasileira é o fator de
“extraterritorialidade” dos cursos superiores a distância, isto é, de
matrículas de alunos de unidades da federação diferentes daquelas da sede das
instituições ofertantes dos mesmos cursos: 31% das instituições têm alunos
apenas do mesmo Estado, 45% das instituições têm até 50% dos seus alunos em
outros Estados, e 23% têm mais de 50% dos seus alunos em outros Estados
(AbraEAD, 2008, p. 72).
A legalidade da
EAD do Brasil e sua adesão por diversas Instituições de Ensino Superior proporcionaram
um aumento de oferta de cursos de graduação, possibilitando atendimento à demanda
daqueles que antes não tinham acesso ao ensino superior.
É sabido que a
Educação a distância é um grande aliado para melhorar o acesso à educação
superior no Brasil,mas precisamos nos ater a alguns pontos.
Segundo Valente
(2003),
Considerando as
dimensões do Brasil e a quantidade de pessoas a serem educadas, a Educação a
Distância (EAD) no ensino superior passa a ser vista como uma solução
importante. No entanto, o que tem sido proposto, em grande parte, pode ser
considerado como uma imitação das abordagens tradicionais de ensino,
viabilizadas porém por meio de recursos tecnológicos digitais. A discussão
ainda está centrada em meios de comunicação e existência de material de apoio.
Muito pouco tem sido falado sobre as questões pedagógicas. Valente (2003).
Com efeito, Seabra (in Behrens, 2000,
pp.97-98) sugere algumas estratégias:
Exercitação: é uma proposta de programa que tem como objetivo oferecer treinamento
de certas habilidades. O uso e adequação desse programa depende do projeto
pedagógico que o professor pretende desenvolver com os alunos;
Programas
tutoriais: são compostos por blocos de informações de
modo pedagogicamente organizado, como se fosse um livro animado, um vídeo ou um
professor eletrônico;
Aplicativos: são programas voltados para funções específicas, como planilhas eletrônicas,
processadores de textos (editores de textos), gerenciadores de banco de dados e
apresentações de slides;
Programas
de autoria: extensão avançada das linguagens de
programação. Este tipo de recurso permite que professores e alunos criem seus próprios
programas sem que tenham que possuir conhecimentos avançados de programação. A
maioria desses sistemas facilita o desenvolvimento de apresentações em multimídias
envolvendo textos, gráficos, sons e animação;
Simulações: são programas elaborados para possibilitar ao usuário a interação com
situações complexas e de risco. Exemplo específico desse recurso são os
simuladores de voo usados em treinamento.
Não podemos esquecer do que nos afirma (BEHRENS,
2000, p. 99): que o recurso por si só não garante a inovação, mas depende de um
projeto bem arquitetado, alimentado pelos professores e alunos usuários. O
computador é a ferramenta auxiliar no processo de “aprender a aprender”.
A EAD, mesmo com
a intensidade de disseminação e de possibilidades de democratização, sofre muitos obstáculos, é o que nos retrata Litto (2008):
Do lado que gera
preocupações, o obstáculo principal ao desenvolvimento da EAD no Brasil parece
ser a mentalidade conservadora demonstrada por docentes universitários
(especialmente das faculdades de educação) e sindicatos de professores, que
criticam a EAD por “falta de qualidade”, sem oferecer exemplos de práticas que
não sejam, também, parte do ensino presencial no país, e sem sugerir outras
alternativas para aumentar o acesso mais democrático ao conhecimento, que vão
além de propostas ingênuas e utópicas. (Litto, 2008)
O crescimento cada vez maior do número de
alunos ou do retorno financeiro faz com que as Instituições de Ensino
Superior esqueçam-se da questão da
qualidade, expondo a EAD à crítica de vários setores da sociedade.
É o que nos revelam as reclamações dos
alunos brasileiros feitas a ABED (Associação Brasileira de Educação a
Distância), ABE-EAD (Associação Brasileira de Estudantes de Educação a
Distância), e a SEED-MEC (Secretaria de Educação a Distância do Ministério da
Educação), relatadas no artigo de Litto(2008):
Abreviação inaceitável do conteúdo
coberto pelo curso; um curso de graduação ou de pós-graduação a distância deve
ter, aproximadamente, a mesma extensão e profundidade (densidade) de tratamento
de conteúdo que os congêneres oferecidos presencialmente pela mesma
instituição, ou por instituições de referência no país;
Inadequação do material impresso
distribuído aos alunos, variando entre a
superficialidade no tratamento da matéria à redução drástica de um
típico livro-texto universitário para uma pequena apostila;
Deficiência na avaliação do desempenho
dos alunos, variando de exames apenas no
estilo “escolha múltipla” aos exames “multidisciplinares” (nos quais um
conjunto das mesmas perguntas é aplicado a alunos de diferentes cursos — economia, pedagogia, ciências
sociais;
Número
excessivo de alunos sob a responsabilidade de um único tutor (assistente do
professor); embora a tecnologia usada para a realização do curso e a natureza
do seu conteúdo possam ser fatores determinantes sobre essa questão, em geral a
média de 130:1 é considerada, internacionalmente, como razoável para o
atendimento de alunos de EAD, organizados em turmas, em cursos de graduação (e
não 500:1 ou mais, como já foi constatado em alguns casos brasileiros);
Tutores
não-qualificados academicamente para atender alunos de determinadas áreas
de conhecimento, cabe à instituição
selecionar como tutores apenas profissionais que podem demonstrar conhecimento
real sobre a área de sua especialidade, além de capacidade como mentor.
Orientando alunos a distância;
Insuficiência,
em quantidade e qualidade, de apoio
material (computadores, livros e periódicos especializados—sejam online
ou físicos e equipamentos científicos exigidos pelos cursos) nos centros de
atendimento presencial aos alunos; cabe à instituição o planejamento apropriado
para o atendimento de seus alunos;
Com
certeza, é o atendimento ao aluno pela instituição que causa o maior número de
reclamações — independentemente da tecnologia adotada para a comunicação (web,
emails, ou telefonemas), as respostas a perguntas sobre conteúdo acadêmico,
questões de matrícula ou de aspectos
financeiros a propósito da relação aluno/instituição, frequentemente levam uma
semana ou mais, período excessivo tanto do ponto de vista da aprendizagem como
do consumidor; uma boa prática seria que cada instituição anunciasse sua
garantia de tempo de resposta às perguntas dos alunos, garantindo essas
prestações de serviço.
Tudo o que foi relatado sobre a EAD no
ensino superior brasileiro é o retrato de uma sociedade que mudou. Essas mudanças
ampliaram o atendimento no ensino superior e precisam de ajustes.
Precisamos de uma política pública que fiscalize
as instituições de ensino,
principalmente no que diz respeito ao projeto pedagógico no exercício da
educação a distancia, quanto ao preparo do docente para o exercício da mediação
dessas tecnologias.
Diante dessas
necessidades, MORAN (2000, p.168), nos afirma que:
Mudar não é tão
simples e não depende de um único fator. O que não podemos é cada um jogar a
culpa nos outros para justificar a inércia, a defasagem gritante entre as
aspirações dos alunos e a forma de preenchê-las. Se os administradores
escolares investirem em formação humanística dos educadores e no domínio
tecnológico, poderemos avançar mais. (MORAN, 2000, p.168)
Considerações finais:
Para alcançar os nativos digitais, nós educadores imigrantes digitais, precisamos rever
nosso lugar na sociedade da informação, nossas práticas pedagógicas e o nosso
papel.
A revolução na
educação tem que acontecer em sua essência, romper com paradigmas educacionais,
fazer interação entre aluno-professor-tecnologias, ampliando e modificando as formas
de ensinar e aprender com o uso da internet.
A prática
pedagógica das instituições de ensino superior, assim como dos professores
universitários, deve atender às exigências da sociedade da informação, com uma
Educação a distancia consolidada, melhoria nas estruturas e com currículos mais
flexíveis e criativos, transformando seus alunos em pessoas capazes, éticas,
talentosas, felizes e humanas.
Que a docência do
ensino superior seja de entusiasmo e de novas propostas, propiciando melhores
condições de aprendizagem para nossos alunos.
As possibilidades
e os problemas educacionais são imensos, portanto, é importante que tenhamos
pessoas interessadas em despertar possibilidades concretas, capazes de
experimentar caminhos novos, que busquem qualificação. Só assim poderemos fazer
integração do humano e do tecnológico, do presencial e do virtual.
Sabemos,
portanto, que existe uma distância considerável entre o que é ideal e o real, os
pressupostos teóricos retratados neste artigo, trazem de forma sucinta e
pontual a situação da educação atual, as novas perspectivas e as dificuldades
enfrentadas.
O uso das
tecnologias na EAD tem conquistado um espaço de proeminência, o mercado de
tecnologias educacionais cresce velozmente, existe um crescente número de
alunos em cursos a distância, que mesmo implicitamente, aderem a um novo
sistema educativo centrado no próprio aluno.
Esperamos que conhecendo
o potencial da EAD, possamos derrubar os obstáculos do tempo e de
Extraterritorialidade[3],
tornando-se real a democratização do ensino.
Como chegaremos
lá? Estes são alguns caminhos a seguir, por vezes tortuosos, outros lineares.
Sem fórmulas prontas, mas com investigações de novas possibilidades, cheias de
acertos e erros, as quais nos guiarão rumo à
educação que desejamos.
Referências
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. Acesso em 12/08/2011
[1] cristiane.kika@hotmail.com
[2] MASETTO, Marcos T. e
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tecnologia. In: Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas, Papirus,
2000. Aprendizagem realizada com interação entre professor-aluno-colegas
(grupo).
[3] Qualidade de extraterritorial,
situado fora dos limites territoriais de uma jurisdição. disponível em: http://www.dicio.com.br/extraterritorial/
acesso 19/10/2011